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Como a pesquisadora Ilana Casoy passou de fã de livros policiais a consultora da polícia sobre assassinos seriais – e ajudou até a prender um deles
Ilana Casoy sempre gostou de ler histórias de assassinatos, reais – como os de Jack, o Estripador, que matou de verdade uma série de mulheres na Inglaterra do século XIX – ou fictícios. Seis anos atrás, quando trabalhava como administradora de um colégio, Ilana disse ao marido que queria escrever sobre os personagens cujas histórias adorava ler. E foi atrás dos matadores reais. Que ela pudesse conhecer pessoalmente, olhar nos olhos e ouvir como nunca ninguém havia feito no Brasil.
Em 2002, saiu seu primeiro livro, Serial Killer – Louco ou Cruel? , um apanhado de casos de assassinos seriais antigos já solucionados nos Estados Unidos, relançado no mês passado pela Ediouro em versão revista e ampliada. O segundo livro, Serial Killers Made in Brasil (Editora Arx), mostrou que sim, nós também temos assassinos seriais. Nele, Ilana descreve o modus operandi dos criminosos com detalhes nauseantes retirados dos laudos. Um exemplo é este detalhe do capítulo sobre Preto Amaral, um serial killer da década de 1920: “Sem querer se arriscar, Amaral enrolou um cinto de brim branco, de 85 centímetros de comprimento, no pescoço de sua vítima e apertou-o com a máxima força. Depois o jogou no chão, tirou-lhe a calça, rasgou-lhe a camisa e sodomizou o cadáver”. O livro, porém, tinha uma estrutura fragmentada. A técnica narrativa refinou-se no terceiro livro, O Quinto Mandamento (Editora Arx), de 2006, baseado em um único caso – o assassinato do casal Von Richthofen, em São Paulo, em 2002, crime pelo qual foram condenados a filha do casal, Suzane, seu namorado e o irmão dele. Com o olhar privilegiado de quem assistiu à reconstituição do crime com crachá de escritora, quando só policiais da Divisão de Homicídios eram autorizados, Ilana relatou cada etapa da investigação, incluindo diálogos de bastidores e as expressões faciais dos suspeitos. “Tenho uma empatia muito forte”, diz Ilana. “Consigo entrar na cabeça de todas as partes. Advogado, promotor, delegado, investigador. Foi um treino que começou na literatura e continuou na vida real”.
De repente, essa mulher de 48 anos, cabelos tingidos de loiro, sobrinha de um jornalista famoso (Boris Casoy), nenhuma experiência anterior nem formação em Direito ou Psicologia, se instalou no meio das investigações criminais mais sérias do país. Nos Estados Unidos, o ofício de offender profiler, o estudioso do comportamento de criminosos que ajuda a polícia, é comum. No Brasil, é raro. Foi se metendo como aluna ouvinte em cursos para policiais, trocando figurinhas com eles e compartilhando os conhecimentos sobre a mente criminosa que acumulou dos livros americanos que Ilana ganhou o respeito de gente como o promotor público Carlos Roberto Talarico, na área de homicídios há 14 anos. “Justamente por ser de fora, ela consegue retratar aspectos dos criminosos que um policial não conseguiria”, afirma Talarico.
Além de fonte freqüente da imprensa na análise de tragédias como a da menina Isabella Nardoni, jogada pela janela de um apartamento em São Paulo em março, Ilana dá consultoria informal a investigadores que precisam de ajuda para qualificar pistas em casos de assassinatos seriais. Com a exposição, tornou-se também membro consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da Ordem dos Advogados do Brasil e “persona honorária” da Academia de Polícia do Rio Grande do Sul.
No mês passado, Ilana e a psicóloga forense Maria Adelaide Caires receberam da Polícia Civil do Pará uma medalha pela contribuição na solução do caso do Monstro da Ceasa, um rapaz que matava meninos no meio do mato depois de violentá-los. Sua participação foi analisar os laudos das cenas dos crimes e convencer os investigadores de que, ao contrário do que pensavam, o assassino era heterossexual. O novo perfil do serial killer afunilou o rol de suspeitos. De acordo com o relatório de Ilana, o culpado era organizado, selecionava as vítimas perto de casa e as levava para local seguro, onde agia sem testemunhas, usando um “kit crime”. A corda com que esganava os meninos era amarrada de um jeito que, segundo um coronel do Exército que ela consultou, só se aprende no serviço militar. Essas informações ajudaram a polícia a prender o criminoso. A investigação foi premiada pelo FBI, a polícia federal americana, durante um encontro internacional de análise de cenas de crime, realizado em Curitiba, em novembro.
Apesar do mal-estar e da insônia que diz sentir quando se envolve num caso pesado (“Já interrompi entrevista no meio para vomitar”), é o prazer por desvendar o raciocínio dos assassinos que, diz Ilana, a tira da cama cedo todas as manhãs. Depois de entrevistar cara a cara homens perigosos presos ou soltos, assistir a julgamentos e trocar informações com vários profissionais forenses, ela chegou a algumas conclusões sobre a mente dos assassinos em série. “É um paradoxo. São pessoas como nós, mas que ultrapassam uma fronteira que nós não somos capazes de transpor. Nós temos um limite bem estabelecido. Elas, não”. // Fonte: Revista Época - Ediçao nº 521
Em 2002, saiu seu primeiro livro, Serial Killer – Louco ou Cruel? , um apanhado de casos de assassinos seriais antigos já solucionados nos Estados Unidos, relançado no mês passado pela Ediouro em versão revista e ampliada. O segundo livro, Serial Killers Made in Brasil (Editora Arx), mostrou que sim, nós também temos assassinos seriais. Nele, Ilana descreve o modus operandi dos criminosos com detalhes nauseantes retirados dos laudos. Um exemplo é este detalhe do capítulo sobre Preto Amaral, um serial killer da década de 1920: “Sem querer se arriscar, Amaral enrolou um cinto de brim branco, de 85 centímetros de comprimento, no pescoço de sua vítima e apertou-o com a máxima força. Depois o jogou no chão, tirou-lhe a calça, rasgou-lhe a camisa e sodomizou o cadáver”. O livro, porém, tinha uma estrutura fragmentada. A técnica narrativa refinou-se no terceiro livro, O Quinto Mandamento (Editora Arx), de 2006, baseado em um único caso – o assassinato do casal Von Richthofen, em São Paulo, em 2002, crime pelo qual foram condenados a filha do casal, Suzane, seu namorado e o irmão dele. Com o olhar privilegiado de quem assistiu à reconstituição do crime com crachá de escritora, quando só policiais da Divisão de Homicídios eram autorizados, Ilana relatou cada etapa da investigação, incluindo diálogos de bastidores e as expressões faciais dos suspeitos. “Tenho uma empatia muito forte”, diz Ilana. “Consigo entrar na cabeça de todas as partes. Advogado, promotor, delegado, investigador. Foi um treino que começou na literatura e continuou na vida real”.
De repente, essa mulher de 48 anos, cabelos tingidos de loiro, sobrinha de um jornalista famoso (Boris Casoy), nenhuma experiência anterior nem formação em Direito ou Psicologia, se instalou no meio das investigações criminais mais sérias do país. Nos Estados Unidos, o ofício de offender profiler, o estudioso do comportamento de criminosos que ajuda a polícia, é comum. No Brasil, é raro. Foi se metendo como aluna ouvinte em cursos para policiais, trocando figurinhas com eles e compartilhando os conhecimentos sobre a mente criminosa que acumulou dos livros americanos que Ilana ganhou o respeito de gente como o promotor público Carlos Roberto Talarico, na área de homicídios há 14 anos. “Justamente por ser de fora, ela consegue retratar aspectos dos criminosos que um policial não conseguiria”, afirma Talarico.
Além de fonte freqüente da imprensa na análise de tragédias como a da menina Isabella Nardoni, jogada pela janela de um apartamento em São Paulo em março, Ilana dá consultoria informal a investigadores que precisam de ajuda para qualificar pistas em casos de assassinatos seriais. Com a exposição, tornou-se também membro consultivo da Comissão de Política Criminal e Penitenciária da Ordem dos Advogados do Brasil e “persona honorária” da Academia de Polícia do Rio Grande do Sul.
No mês passado, Ilana e a psicóloga forense Maria Adelaide Caires receberam da Polícia Civil do Pará uma medalha pela contribuição na solução do caso do Monstro da Ceasa, um rapaz que matava meninos no meio do mato depois de violentá-los. Sua participação foi analisar os laudos das cenas dos crimes e convencer os investigadores de que, ao contrário do que pensavam, o assassino era heterossexual. O novo perfil do serial killer afunilou o rol de suspeitos. De acordo com o relatório de Ilana, o culpado era organizado, selecionava as vítimas perto de casa e as levava para local seguro, onde agia sem testemunhas, usando um “kit crime”. A corda com que esganava os meninos era amarrada de um jeito que, segundo um coronel do Exército que ela consultou, só se aprende no serviço militar. Essas informações ajudaram a polícia a prender o criminoso. A investigação foi premiada pelo FBI, a polícia federal americana, durante um encontro internacional de análise de cenas de crime, realizado em Curitiba, em novembro.
Apesar do mal-estar e da insônia que diz sentir quando se envolve num caso pesado (“Já interrompi entrevista no meio para vomitar”), é o prazer por desvendar o raciocínio dos assassinos que, diz Ilana, a tira da cama cedo todas as manhãs. Depois de entrevistar cara a cara homens perigosos presos ou soltos, assistir a julgamentos e trocar informações com vários profissionais forenses, ela chegou a algumas conclusões sobre a mente dos assassinos em série. “É um paradoxo. São pessoas como nós, mas que ultrapassam uma fronteira que nós não somos capazes de transpor. Nós temos um limite bem estabelecido. Elas, não”. // Fonte: Revista Época - Ediçao nº 521
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