segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Forças Armadas devem desculpas

Foto: Google


Coordenador do Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio (UFRJ) e autor de vários livros sobre o período de ditadura militar, o professor Carlos Fico defende um pedido público de desculpas pelas Forças Armadas como forma de recompor a relação entre militares e sociedade civil organizada.
Relação esta que, acredita o especialista, ainda não se recuperou dos traumas impostos pelo Ato Institucional nº 5.
– Uma das seqüelas mais graves do AI-5 na sociedade brasileira foi a mancha que ficou na imagem das Forças Armadas, sobretudo do Exército – afirma Fico, um dos mais respeitados estudiosos brasileiros sobre o regime.
– A opinião pública não perdoou nunca as Forças Armadas pela prática da tortura. Jornalistas, intelectuais, professores, todos têm uma imagem muito negativa até hoje das três forças.

Reflexos na Defesa
Para o professor, um dos reflexos desse distanciamento entre sociedade e militares pode ser visto na escassez de recursos para área de Defesa, algo perigoso para a segurança nacional, que considera “pífio” o Plano Nacional de Defesa a ser lançado pelo governo.
– É quase que um apelo pelo reaparelhamento das Forças Armadas, não é isso que se espera do plano de defesa de um dos maiores países do mundo. A evidente fragilidade do Ministério da Defesa e o desinteresse da sociedade pelo assunto mostram que esses reflexos negativos do AI-5 estão muito vivos – observa.
Ao passo que vê as forças, hoje, como vítimas do processo histórico que se desenrolou depois de findo o regime militar, o especialista cobra dos comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica uma postura mais franca diante do envolvimento passado com a prática da tortura, que se traduziria, entre outras coisas, na abertura dos arquivos secretos das três forças armadas sobre o período.
– Seria preciso que as forças armadas enfrentassem corajosamente o fato de terem se envolvido com a tortura no passado, defende Fico, que acredita no apoio de militares mais jovens, de alistamento mais recente, a uma eventual abertura aos documentos sigilosos da época.
– Não adianta dizer que todo muito foi perdoado com a lei de anistia se, na memória dos brasileiros, as Forças Armadas estão de alguma maneira condenadas como participantes em um crime tão grave.
Mesmo com a ascensão ao poder daqueles que, durante os anos de chumbo, foram perseguidos pela ditadura militar, a sociedade brasileira está longe de ter atingido a superação das seqüelas causadas pelo AI-5 e seus desdobramentos, acredita o historiador.
Além do debate sobre abertura de arquivos sigilosos, a discussão sobre a questão das anistias tem mostrado que as vítimas do regime ainda sofrem conseqüências da perseguição política, lembra Fico.
// Fonte: JB Online

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