quarta-feira, 1 de abril de 2009

Os psicopatas a nosso redor

Foto: Google

Eles têm consciência do sofrimento que infligem aos outros.
Mas são incapazes de se importar
Gary Ridgeway, um dos piores assassinos em série dos Estados Unidos, confessou-se culpado pela morte de 48 mulheres em 2001. Durante o interrogatório policial, ele descreveu o que havia comido no café-da-manhã e depois falou sobre seus horrendos crimes com o mesmo desligamento emocional que demonstrou ao descrever seu desjejum. Gary é bem diferente de Cassie, a menina com síndrome de Williams sobre a qual escrevi na minha última coluna. Cassie é a personificação da empatia, para quem todo mundo é amigo. Gary não tem amigos, só vítimas. É considerado um psicopata.
Desde que o psiquiatra americano Hervey Cleckley escreveu o clássico texto sobre essa desordem mental, A Máscara da Sanidade, em 1941, novas pesquisas têm produzido crescentes insights sobre como os psicopatas pensam. Articulados, inteligentes e autoconfiantes, eles não têm ética, empatia, remorso ou sentido de culpa. Ao contrário das pessoas com síndrome de Williams, que se conectam com quem quer que se encontrem, os psicopatas parecem não ter qualquer apego emocional. Tampouco medo de ser flagrados ou punidos. Personalidades psicopatas não se importam com o sofrimento que suas ações infligem aos outros. São incapazes de se importar.
O assassino Jack Abbott descreveu: “Existem emoções que conheço apenas através de palavras e leitura. Eu posso até imaginar que sinto essas emoções, mas realmente não as sinto”. Imagens cerebrais de psicopatas mostram que experiências emocionais não ativam seus cérebros límbicos emocionais, como nas pessoas normais. Nem todos os psicopatas são um Hannibal Lecter (personagem do filme Silêncio dos Inocentes) ou um assassino em série. Aparentemente, 1% das pessoas na população, em geral, é psicopata, embora nem todos sejam criminosos. A maioria de nós cruzará com pelo menos uma figura psicopata em um dia normal.
“Eles são indivíduos insensíveis e de sangue-frio”, diz o doutor Robert Hare, professor de Psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e criador da ferramenta de diagnóstico usada há 25 anos para identificar os psicopatas. Carismáticos e espertos, eles seduzem por seu charme hipnótico e fluência verbal, apenas para usar impiedosamente suas vítimas segundo seus próprios fins. Cleckley e Hare afirmam que essas pessoas estão por aí e ascendem nas organizações. Diz o psicólogo organizacional americano Paul Babiak: “O clima empresarial de hoje – acelerado, competitivo e muitas vezes caótico – promove o estímulo que os psicopatas buscam e dá cobertura suficiente para seu comportamento manipulativo e abusivo”.
Pesquisadores dizem que os dirigentes com perfil psicopata, que exploram seus subordinados enquanto agradam aos superiores, podem custar caro às organizações. Eles derrubam o moral da equipe, causam excesso de rotatividade e reduzem a produtividade. Hare recomenda que, em vez de considerar essas personalidades charmosas como bons líderes, os empregadores devem avaliar os candidatos cuidadosamente, para identificar aqueles que têm um vistoso MBA, porém são desprovidos de consciência ética.
Psicopatas em potencial podem ser detectados desde cedo, na infância. Embora muitos falhem em estabelecer um senso ético, é possível que alguns desenvolvam remorso e empatia – os pré-requisitos para a moralidade. Pesquisadores na Universidade de South Wales, na Austrália, descobriram que, quanto mais insensíveis e não-emotivas as crianças, maior era a probabilidade de que respondessem bem a recompensas e encorajamento dos pais, mas não a punições por mau comportamento. Precisamos de uma educação não apenas para o intelecto, mas também para o coração. // Fonte: Época

Nenhum comentário: